No Angola Economic Forum 2025, realizado em Luanda entre os dias 27 e 29 de Agosto, gestores, especialistas em contratos comerciais do sector Oil & Gas e representantes de empresas angolanas defenderam uma acção mais incisiva do Estado e dos operadores estrangeiros para aumentar o conteúdo local no sector petrolífero.
Entre as conclusões que merecem destaque:
Participação de empresas angolanas baixa: segundo os especialistas, actualmente apenas cerca de 2% do valor gerado pela cadeia de produção e prestação de serviços na indústria petrolífera é captado por empresas nacionais.
Perda de receitas: apesar de o sector petrolífero gerar bilhões de dólares por ano, grande parte dessas receitas acaba sendo remetida para fora do país, devido à pouca confiança demonstrada nas capacidades técnicas, operacionais e gerências das empresas angolanas.
Desenvolvimento e valorização do capital humano: Yolanda Ramos, especialista em contratos comerciais no sector, frisou que uma das bases essenciais para reverter esse quadro é capacitar as empresas angolanas — não apenas em mão‑de‑obra simples, mas também em gestão, padrões internacionais, inovação e cumprimento de requisitos técnicos complexos.
Criação de cadeias de valor integradas: foi levantada a necessidade de que Angola não se limite à extracção, mas invista em etapas subsequentes (processamento, refinação, distribuição) para capturar maior valor agregado dentro do país.
Desafios e recomendações emergentes
A partir das discussões, destacam‑se os seguintes desafios identificados, e as recomendações apontadas:
Desafios:
Capacidade técnica limitada de muitas empresas nacionais para atender exigências de segurança, meio ambiente, compliance internacional.
Falta de escala — muitas empresas são de pequena ou média dimensão e não têm capital, know‑how ou acesso a financiamento para competir com grandes prestadores internacionais.
Infra-estrutura deficiente, atrasos e burocracia nos processos regulatórios e contratuais.
Escassez de programas sólidos de formação e retenção de talento especializado no país.
Recomendações:
Estabelecimento de políticas públicas mais claras de conteúdo local: cláusulas obrigatórias em contratos de exploração/extracção que definam participação mínima de empresas nacionais, com penalizações ou incentivos.
Fortalecimento institucional: agências reguladoras, ministérios e entidades públicas devem garantir acompanhamento rigoroso, auditoria e transparência nos processos petrolíferos.
Programas de capacitação técnica e profissional contínuos, incluindo parcerias com universidades, centros de I&D, com empresas internacionais transferindo tecnologia.
Facilitação de acesso ao crédito para empresas nacionais que queiram investir em equipamentos, certificações e expansão.
Incentivos fiscais e regimes preferenciais para empresas que atinjam padrões internacionais.
Melhoria de infra-estrutura de apoio: logística, transporte, armazenamento, energia. O fortalecimento do conteúdo local na indústria petrolífera não é apenas uma questão de justiça económica, mas de soberania e sustentabilidade. Capturar mais valor internamente permite maior geração de emprego, diversificação da economia, maior capacidade de enfrentar choques externos (por exemplo, queda no preço do petróleo) com menos impacto para o cidadão comum.